31 1

Postado por  in Comportamento

Ted Polhemus afirmou, já há algum tempo, que a moda não seria mais a mesma, porque o mundo não seria mais o mesmo.

O mundo mudou e está mudando, de forma tão acentuada que não restam dúvidas a ninguém sobre esta realidade. As relações de uso e consumo de bens passaram por mudanças tão radicais  que já há algum tempo, a figura do consumidor passou a ser central. Os consumidores, principalmente os jovens e a sua forma de se relacionar com o mundo, também estão em incessantes mudanças, e acompanhando tudo isto, a forma de observar a moda também mudou.

A moda como expressão do social, e que também nele interfere, buscando traduzir a sociedade em seus movimentos e evoluções,  tornou-se plural e muito mais veloz quanto as mudanças.

Uma das mudanças observadas é o aumento do atrito entre a vontade e busca de expressão da individualidade com a necessidade de inserção coletiva,  de se sentir fazendo parte de algum coletivo.

Referenciando o estilo individual, com o qual buscamos e esperamos expressar valores fundamentais e comunicar ao mundo quem somos e como queremos ser reconhecidos, a moda, como uma vitrine sociocultural, expõe tanto a opulência quanto a insatisfação social, desejos, crises diversas e mudanças de comportamento.

A moda continua tendo a juventude como referencial estético e de atitude, entretanto, a atitude da juventude, sempre questionadora e insatisfeita, foi redesenhada ao longo dos últimos anos.

A generalização e difusão das informações resultantes da comunicação de massa  e das novas tecnologias, fez surgir uma nova classe de consumidores, caracterizados principalmente pela comunicação com grande velocidade de resposta e pela capacidade de deslocamento que ultrapassa o limite cultural, social, econômico e principalmente territorial.

O transito naturalizado por territórios urbanos e virtuais trouxe mudanças à idéia de grupos como era conhecida anteriormente e criou novos conceitos que  associam a experiência urbana e a experiência virtual, tornando o código de comunicação das duas, cada vez mais semelhantes.

A partir do  virtual, a sensação da existência subjetiva foi potencializada,  valores e expressões individuais foram redefinidos e começaram a serem criados novos códigos de comunicação não verbal, onde o diferencial esta na sutileza dos detalhes, na velocidade de mudanças e no conteúdo conceitual dos mesmos.

Estas mudanças ampliaram a dimensão da comunicação, estabelecendo novas possibilidades que tendem a ultrapassar esferas delimitadas pelo uso apenas de palavras.

Saltando da forma anterior, de expressão mais direta e definida, para a concepção de multiplicidade atual, a moda busca representar e atender um consumidor acima de tudo plural, em constante movimento, que transita naturalmente por  universos de significados distintos e  assume novas formas de  posicionamento em relação a se mesmo e em relação ao mundo.

Se no passado as propostas eram focadas nos objetos, que simbolizavam, principalmente, o status e a busca pela identificação social, o foco atual é no significado, aquele que vai além do material, direcionado prioritariamente para a estética,  conceito e para a emoção.

A referência afirma-se acima de tudo como cultural e interiorizada, e o consumo adquire contornos de experiência simbólica, propondo autenticidade, manifestando desejos profundos e apontando para a satisfação do prazer e da experimentação emocional.

O consumidor, plural e efêmero por estar em constante mutação em busca de satisfação, prioriza não mais a identificação, mas sim a diferenciação na elaboração e construção do estilo individual como um instrumento de comunicação da personalidade. A moda, como um símbolo visual de expressão, representa então  mais do que nunca, a expressão da subjetividade e identidade individual.

Quando se fala em comunicar o estilo individual, único e intransferível, o corpo passa a ser instrumento ativo deste processo e torna-se mais um meio de transmissão de significados e a moda passa a emoldurar esta expressão pessoal.

Neste sentido, a comunicação adquire contornos verdadeiramente pessoais e a roupa  participa de uma expressão única. A moda “essência” esta definitivamente instalada e o movimento constante da busca pela novidade, concebendo novas diversidades, contribui para a formação de um novo momento cultural e para o nascimento de novas tendências de consumo que fatalmente acabarão mudando pois gerará insatisfação.

O indivíduo insatisfeito tende a buscar a satisfação de suas necessidades e desejos, isto tende a gerar movimento. Este é um dos fatores que impulsionam as mudanças da moda. No momento que há  satisfação a busca cessa e a moda deixa de ter sentido, então para que a moda continue a existir mais insatisfações devem ser geradas através de novas propostas.

Diante desta dinâmica cabe questionar sobre a capacidade de, através da moda, ser possível ao indivíduo expressar a sua individualidade.

Para estar na moda o indivíduo tem que fazer uma renúncia, visto que ele sozinho não fará e nem estará na moda. Para estar na moda, ele depende de outros, depende de um conjunto de indivíduos.

Um caminho escolhido na busca de afirmar uma identidade é a adoção de um estilo próprio e individualizado que fatalmente estará muitas vezes, está em total dissonância com os ditames momentâneos  da moda. Essa troca, individualizar em lugar de se coletivizar, além de ter o custo de uma possível rejeição nos círculos que o indivíduo transita, trará o risco da frustração? A avidez pelo novo tem ocasionado a apropriação e a transformação de estilos individualizados em estilos coletivos e em moda. Portanto, adotar um estilo próprio e individualizado não garantirá, por muito tempo, que o indivíduo expresse, afirme e comunique a sua individualidade através do vestir.

Todos nós estamos imersos, na teia de significados que é a cultura, portanto, é muito difícil, senão improvável, que estes estilos não passem de pequenas transformações baseadas no já existente e posto, inclusive pela moda. O que vemos são construções que vão repetindo o todo ou partes do todo, como nas estruturas fractais.

Não se trata, aqui, de desprezar o indivíduo, mas sim de reconhecer a dificuldade de escapar dessa teia de significados coletivos da cultura, maior e mais forte que o indivíduo. Mesmo naquelas situações em que a pessoa pensa estar expressando a sua individualidade, a cultura se impõe, mesmo quando parece que não.

Em relação ao estilo de vestir já virou lugar comum  fotografar pessoas nas ruas como forma de mostrar estilos próprios, e de certa forma, contrapor isto à moda vigente. Entretanto, o que observamos é que não pequenas variações do que já está posto, então cabe perguntar: São estilos próprios e individualizados ou apenas pequenas variações da moda? Ou de outra forma, não são apenas facetas da moda se manifestando?

Este é um paradoxo, quem quer se individualizar não pode estar na moda, fenômeno coletivo, mas ao buscar a afirmação da individualidade o indivíduo caminha para se tornar um ser só, e experienciará  o sentimento de solidão que tende a aumentar à medida que aumenta a individualização. Paradoxal, por ser o homem um ser coletivo. Como aponta Norbert Elias, sociólogo alemão, já nascemos  imersos em uma rede (família, amigos dos familiares, a cultura desta rede, etc.) que nos antecede, portanto já estabelecida, com seus significados culturais dados, e nessa rede somos socializados, assimilando o que ela nos fornece e dela somos dependentes.  Crescemos e vivemos dependentes das redes, sejam elas restritas ou não, e a ausência destas nos leva a sentir só.

Não é sem razão que observamos o crescimento acelerado das chamadas redes sociais na internet, e pessoas colecionando centenas de “amigos”, numa ilusão de ausência de solidão.

Cabe perguntar, será que as pessoas conseguem realmente demonstrar e serem individualizadas, principalmente em termos da moda, mesmo no atual quadro de pluralidade e aceleradas mudanças? É possível ao indivíduo expressar a sua individualidade através do vestir, à medida que a moda varre o mundo urbano, ou continuaremos caminhando rumo à gaiola de ferro?

Dulce Gomes: Master Fashion Coordinator – Instituto Marangoni Milano.
Professora – Moter og Styling –  NKI Norway.
Consultora de  Empresarial: Norway.
Mauro Jer: Sociologo e pesquisador de comportamento e moda – Brasil.

One Response

  • imperatrizfevereiro 01, 2011 at 21:54 

    NOSSA!!!!!! QUE MARAVILHA !!!!! SENTI ORGULHO DE SER SUA AMIGA !!!!! MEU DEUS !!!!! QUE LINDOOOOOO ADOREI !!!!
    SE EU SOUBESSE ESCREVER PENSO QUE ESCREVERIA TUDO ISSO QUE VOCE ESCREVEU , PENA QUE NÃO SEI NEM PENSAR BONITO E INTELIGENTE IGUAL A VOCE RARARÁ !!!!!!!!!!!!!!!!!BEIJOS E MUITO SUCESSO PRA VOCE QUERIDA , IMPERA

    Reply

Deixe um comentário

* campos obrigatórios